07 Aug 2019 | Artigos
Educação para a paz para evitar ou reduzir a violência
“A violência vem do medo, o medo vem do mal-entendido, o mal-entendido vem da ignorância … e lutamos contra a ignorância por meio da educação.” (Leah Wells)
O egoísmo, a intolerância, a desconfiança, o desejo de se beneficiar à custa dos outros (ou seja, a ignorância generalizada) criam as condições que promovem a erupção da violência. Nesse contexto, inúmeras famílias se encontram em estado de desintegração, animosidade velada, brigas e discussões, violência física, ofensas, provocações, abusos psicológicos e físicos. A aprendizagem socioemocional, que é o desenvolvimento de competências para gerenciar emoções, é a única forma eficaz de conter o processo de violência. Mas como evitar a violência? Como reduzir isso? Como construir a paz? A resposta está na mente. É na mente que devemos promover processos que levem à paz e à harmonia. Para isso, é necessário adotar, simultaneamente, estratégias de curto, médio e longo prazos. Não há dúvida quanto à direção geral que devemos seguir: lançar bases sólidas para a paz nas famílias e nas escolas. É um trabalho educacional. A escola está no centro desse processo. Sabemos que a formação de educadores será realizada pelos mesmos educadores que se destacam e constituem um núcleo de referência na educação. Por outro lado, a questão que se coloca é: quem educa a família? Vários atores e instituições devem participar desse esforço.
No entanto, permanece a expectativa de que a escola do futuro tenha um papel privilegiado na educação da família e da comunidade. Os educadores terão, no espaço escolar, o compromisso de olhar além e construir com as famílias a interface e o diálogo família-escola. Desse modo, vislumbro a educação do futuro com educadores olhando para fora, para as famílias e, também, para dentro, para a sala de aula e para os alunos. A educação poderá, de forma privilegiada, perante outras instituições sociais, chegar mais cedo e de forma adequada às famílias.
Estamos imersos e impregnados dos valores que estruturam a cultura da violência. A realidade sugere a necessidade de aprimorar medidas para a construção de uma cultura de paz e não violência. Para isso, buscamos uma medida de fundamental importância, uma etapa sonhada por todos os pacifistas do mundo: incluir, de forma sistemática, na matriz curricular do ensino, em todos os níveis, os conteúdos da Cultura de Paz. Dessa forma, os alunos do Ensino Básico, do Ensino Secundário e do Ensino Superior irão incorporar, nas aulas regulares, os fundamentos e valores da Cultura da Não Violência.
“Civilizar significa reduzir a violência”, disse Karl Popper. “Educar é, antes de tudo, abrir espaços de convivência”, afirma Humberto Maturana. Ensinar a compreensão com “pensamento bem pensado”, com introspecção, consciência da complexidade humana, simpatia e internalização da tolerância constitui um alicerce essencial da educação do futuro na sábia visão de Edgar Morin. “Educar exige disponibilidade para o diálogo, encurtando a distância entre o educador e o educando”, orienta a sensibilidade de Paulo Freire.
Segundo Mark Greenberg, existem cinco conteúdos fundamentais nos currículos de aprendizagem socioemocional: ensinar a se acalmar, ensinar a perceber os estados emocionais dos outros, ensinar a falar sobre sentimentos para resolver dificuldades interpessoais, ensinar a planejar e ensinar a pensar à frente, e, ainda, ensinar a analisar como nosso comportamento afeta os outros. Esses fundamentos estão esperando para serem incorporados à educação.
O filósofo e sociólogo chileno Juan Casassus realizou um estudo para a Unesco e publicou o livro Escola e desigualdade, no qual analisa os fatores que favorecem o bom desenvolvimento dos alunos. A descoberta mais surpreendente foi a importância do ambiente favorável de aprendizagem na escola, mas especificamente a necessidade de um clima emocional adequado dentro da sala de aula. Em instituições nas quais os alunos se dão bem com os colegas e não há brigas, mas relacionamentos harmoniosos com salas de aula ininterruptas, eles se saem melhor. Educar para a paz, na perspectiva da educação para as emoções, promove o sucesso profissional e pessoal de nossas crianças e adolescentes.