18 Nov 2019 | Entrevistas
Ética e Moral
Teresa – Muitas pessoas vivem à margem da sociedade, sem amparo, sem abrigo. O que é ética e como relacionar a noção de ética com a realidade dos miseráveis e moradores de rua?
João Roberto – O mundo grego cria o éthos. Os poetas gregos usam essa palavra como sinônimo de abrigo, no sentido físico. Aristóteles, um pouco mais à frente, associa o éthos à disciplina, com o valor semântico de abrigo metafórico. A ética pressupõe o amparo na disciplina interna, consciente do espaço de liberdade e autonomia que criamos dentro de nós. Ela não é imposta de fora para dentro, vem de dentro para fora, nasce na nossa consciência, que sustenta a vontade de fazer o que precisa ser feito. A moral, filha da cultura romana, expressa a norma criada e estabelecida pela sociedade. Assim, sua força, diferentemente da ética, vem de fora como imposição social.
Dessa forma, podemos ser morais sem ser éticos e éticos sem ser morais. Mais que a moralidade, o nosso grande desafio é o desenvolvimento ético, o qual representa o ânimo que cria força e disposição para a luta. Ética é a arte, a ciência do convívio pacífico, e sua regra de ouro é: faça para o outro o que deseja que façam para você.
No contexto daqueles que vivem com extrema dificuldade material e, inclusive, dos sem-teto, o observador poderia cogitar: “Não gostaria que isso acontecesse comigo ou com meu filho”, mas em geral nada faz pelo indigente. Para agirmos eticamente precisamos aliviar o fardo de apegos ao supérfluo, ficar mais leves, não dispersar e desperdiçar energias com questões periféricas e irrelevantes. Estamos sangrando para atender às dimensões menores da vida e não sobra energia para as ações fundamentais. Se o ser humano gastar toda a sua energia em causas menores, ficará sem força e sem tempo para a luta superior, na direção da convivência amorosa e pacífica.
João Roberto de Araújo é pensador, escritor de conteúdos para educação socioemocional e fundador da 50-50 SEL Solutions.