09 Aug 2023 | Artigos
De quem é a culpa pelo fracasso escolar?
É comum que as discussões sobre o “fracasso escolar” girem em torno de procurar culpados, tornando-se uma espécie de caça às bruxas. Por que a educação vai mal? Ora culpam-se os alunos por serem, por exemplo, “desatentos e indisciplinados”; ora culpa-se a família, por ser “desinteressada” e delegar à escola toda a responsabilidade pela educação dos alunos. Mas também pode-se culpar os professores, por serem “despreparados” e não “se atualizarem”; os métodos de ensino, por serem obsoletos e ultrapassados; ou até mesmo a tecnologia, que tem mudado a forma como nos relacionamos, comunicamos e aprendemos. A verdade é que podemos engrossar a lista de culpados indefinidamente, mas se não formos capazes de lançar um olhar que dê conta da complexidade (dos muitos lados!) da situação, não iremos muito longe.
Sendo assim, como se pode culpar os alunos por estarem se desenvolvendo na época mais estimulante da história, sendo bombardeados por informação e entretenimento a cada instante? Alguém lhes ensinou como se acalmar e prestar atenção, filtrar estímulos? Como se pode culpar as famílias, que têm passado por profundas transformações e lidado com cargas de trabalho cada vez maiores? Como podem pais e mães aprenderem estilos parentais mais saudáveis? E os professores, podem ser culpados quando lidam com dificílimas condições de trabalho e têm de ser os mediadores do conhecimento em meio a todas essas mudanças?
É um preceito da educação socioemocional falar mais sobre responsabilidades do que sobre culpas. Falar sobre culpas pode cristalizar os conflitos, sedimentar imagens hostis e bloquear entendimentos e cooperações importantes. Mas quando falamos de responsabilidades, nos movemos por territórios onde há mais possibilidades e recursos.
Há um provérbio africano que diz que “é preciso haver toda uma aldeia para educar uma criança”. Ele ressalta o caráter coletivo, comunitário e colaborativo da aprendizagem em todas as suas formas. Pais, mães e cuidadores têm que se envolver; professores devem se atualizar; alunos, se esforçar; e a ciência e a tecnologia precisam compilar o vasto conhecimento já produzido e transmiti-lo de maneira acessível, prática e útil para a realidade das escolas, comunidades e organizações. Não se trata de apontar culpados, mas todos serem responsáveis.
“A educação (…), principalmente na escola, envolve uma meticulosa adesão a tudo que possa liberar as pessoas da violência e ensiná-las a ter amor pelo conhecimento e paciência para compreender. É também oferecer a elas meios para escapar de todas as formas de violência – social ou intelectual – que possam ser usadas contra elas, mesmo que por parte da instituição educacional que as instrui; e também meios para escapar de tudo quanto as convida a serem violentas com os outros.”
– Philippe Meirieu