10 Jul 2023 | Artigos
A arte como potencializadora da vida
Antonio Candido (1918-2017) foi um grande intelectual brasileiro nas áreas de Sociologia e Crítica Literária. Aliás, sua originalidade foi justamente interseccionar esses saberes para produzir uma obra profunda.
O pensador argumentava que a literatura – e, de modo mais amplo, a arte – é tão essencial à vida quanto a comida ou a moradia. Não há povo que conseguiu sobreviver sem a capacidade de fabulação. A arte humaniza o ser humano, sendo ao mesmo tempo um exercício de reflexão, de cultivo das emoções, o de mergulho nos problemas da vida e da percepção do belo.
Relacionando arte e tempo, Candido afirmou: “Acho que uma das coisas mais sinistras da civilização ocidental é o famoso dito de Benjamim Franklin: ‘tempo é dinheiro’. Tempo não é dinheiro. Tempo é o tecido da nossa vida, é esse minuto que está passando. Daqui a 10 minutos eu estou mais velho, daqui a 20 minutos eu estou mais próximo da morte. Portanto, eu tenho direito a esse tempo. Esse tempo pertence a meus afetos. É para amar a mulher que escolhi, para ser amado por ela. Para conviver com meus amigos, para ler Machado de Assis. Isso é o tempo”.
Candido era leitor de Nietzsche e em suas obras é possível perceber a ressonância do filósofo alemão. Pensemos em duas frases especificamente: “Temos a arte para não perecer diante da verdade” e “Apenas a arte é capaz de transformar os aspectos horríveis e absurdos da existência em representações com as quais é possível sobreviver”. Em um possível diálogo entre Nietzsche e Candido é provável que ambos, ao som de Wagner e com vinho tinto sobre a mesa, chegassem à concordância de que a arte é a grande potencializadora da vida.