27 Sep 2022 | Artigos
Amarelão: machismo e prevenção ao suicídio
Depois de vencer um combate, um ofegante lutador inglês de UFC diz que de madrugada recebeu uma ligação da família de seu melhor amigo porque ele havia tirado a própria vida. E fez um apelo: “Se você estiver com um grande problema pesando sobre os seus ombros e pensar que deixar de viver é a única solução, por favor, fale com alguém, com qualquer um! Eu preferia ter meu amigo chorando nos meus ombros a ter que ir ao seu funeral na semana que vem”.
O lutador, visivelmente emocionado, mas ainda se contendo, dedica a vitória à memória de seu finado amigo lutando contra o injusto mas poderoso estigma que mantém os homens calados: o de que “os homens não podem falar de sentimentos”, e que “os homens não choram”.
Entre os homens e suas culturas de masculinidades, geralmente expressar sentimentos, falar sobre problemas, sobre inseguranças ou vulnerabilidades é sinônimo de fraqueza. Por isso, além da tristeza causada pelos problemas, pode haver também o duplo peso da culpa e da vergonha de sentir-se completamente inadequado e isolado.
Não é à toa que as taxas de suicídios entre homens são mais que três vezes maiores do que entre as mulheres. Nesse sentido, tragicamente, os homens tornam-se vítimas de seu próprio machismo por não buscarem ajuda, por acreditarem que têm que resolver seus problemas completamente sozinhos.
Por isso é tão importante que alguns homens corajosos o bastante para serem verdadeiros e vulneráveis quebrem esse perigoso silêncio. Campanhas como as do Setembro Amarelo, de prevenção ao suicídio, conscientizam e possibilitam que essas mudanças aconteçam. Mudanças culturais profundas como essas, capazes de abrir fendas em sistemas estruturais seculares como os do machismo, levam tempo, mas acontecem.
Os homens, cada vez mais, poderão falar do que sentem para resolver seus problemas, e, com isso, serão mais livres e libertários: sofrerão menos com o machismo e também causarão menos sofrimentos deixando de replicá-lo. Viveremos o tempo em que amarelar não será mais sinônimo de medo e covardia, mas de esperança e alegria. Homens, amarelem!