19 Jul 2023 | Artigos
Brasil: campeão mundial de ansiedade – por quê?
Há vários motivos pelos quais a OMS (Organização Mundial da Saúde) colocou o Brasil no topo da lista mundial de ansiedade, embora ainda não haja um consenso que explique definitivamente esse fenômeno. Embora cerca de 9,3% da população sofra com sintomas de ansiedade severa ou patológica (aproximadamente 18,6 milhões de pessoas), os próprios brasileiros se surpreendem com esses dados, visto que nosso país sempre foi associado a descontração, cordialidade e cultura festiva.
Vale ressaltar que a ansiedade patológica não se refere a um simples nervosismo ou a uma intensidade administrável de ansiedade, como um leve suor nas mãos, o coração levemente acelerado, um friozinho na barriga. Quando a ansiedade atinge um nível patológico, ela pode chegar a modificar a vida em seus aspectos mais essenciais, comprometendo o trabalho, os estudos, os relacionamentos sociais e até mesmo os momentos de prazer e descanso. Quando não se busca ajuda, o quadro de ansiedade patológica pode evoluir e se associar a outros transtornos, como o depressivo, em que a pessoa perde a vontade de se engajar na grande maioria das atividades.
Alguns especialistas atribuem as altas taxas de transtorno de ansiedade no Brasil a uma espécie de “ressaca” do que vivemos durante a pandemia de Covid e o isolamento social. Nesse período tivemos, por um lado, o medo agudo e objetivo de contaminação e, por outro, a solidão e as mudanças na rotina de trabalho e convívio.
Outros especialistas explicam a epidemia de transtornos de ansiedade no Brasil a partir de questões estruturais: mudanças constantes nos rumos da economia, precariedade dos serviços de saúde e assistência social, violência urbana e outros fatores socioeconômicos que afetam negativamente a saúde mental da população. Contudo, é importante ressaltar que países mais desenvolvidos economicamente (e com sistemas de assistência social mais robustos), como Noruega, Nova Zelândia e Austrália, estão no terceiro, no quarto e no quinto lugar, respectivamente, da lista mundial de Ansiedade. Ou seja, boas condições socioeconômicos são definitivamente necessárias para a boa saúde mental da população, mas, sozinhas, não são suficientes.
Por fim, há uma terceira hipótese, que alerta sobre a mudança de hábitos entre os brasileiros, devido ao uso de novas tecnologias, em especial smartphones e redes sociais. Segundo um relatório do Canadian Journal os Psychiatry, quanto maior o uso de telas, maior a incidência e a intensidade dos transtornos de ansiedade. E o Brasil, dentre os 17 países avaliados pelo estudo, é o país com a maior média de horas de uso de telas: cerca de 5,5 horas por dia.
Sejam quais forem as causas do avanço da ansiedade patológica no Brasil, precisamos aprender a lidar melhor com seus efeitos. Mesmo que o uso de telas esteja associado à ansiedade, vale considerar que dificilmente as pessoas abdicam de novas tecnologias – seria algo como tentar colocar um gênio de volta na lâmpada. O fato é que elas existem e, hoje, tomaram tamanha proporção que grande parte do funcionamento do mundo como o conhecemos depende delas. Se não podemos deixar de usar redes sociais e smartphones, será que podemos aprender a ter uma relação diferente com eles? E se, em vez de gerar ansiedade, os aplicativos desenvolvessem competências socioemocionais e ajudassem a proteger nossa saúde mental? Se gostou da ideia, conheça o BeNow!