07 Aug 2019 | Entrevistas
Quando a arma é a resistência
Teresa – Qual a importância de Mahatma Gandhi no contexto mundial?
João Roberto – Mahatma Gandhi acreditou nas coisas simples tal qual “amar o próximo como a si mesmo”, máxima responsável por grandes mudanças na trajetória humana. A história da independência da Índia, que viveu sob a dominação do império inglês, concretizou-se graças à liderança desse grande pacifista. Para ele, o trabalho era mais importante que as leis, pois existem leis injustas como também homens injustos.
A sua luta consistia na corajosa resistência civil, que deixou desnorteados muitos líderes de seu tempo. Afirmava que “os homens podiam confiscar seus bens, mas nunca sua dignidade”. Jamais se dispôs a matar. Sua “arma” era a palavra e, na defesa de seu povo, pedia aos indianos que lutassem, mas que nunca usassem a violência. O jejum e a oração também faziam parte de sua manifestação de solidariedade. Jejuava com o fim de se igualar aos famintos de seu país e também como forma de protesto. Foi um homem coerente que harmonizou a ação e o pensamento. “É preciso que você se torne a mudança que deseja ver no mundo”, dizia. Não obedecia ao domínio dos que não agiam em conformidade com a justiça. Na doutrinação de seu povo vítima da discriminação racial, na África do Sul, ele discursou: “Não desferiremos um golpe, mas receberemos golpes e, por meio da nossa dor, faremos com que nossos opositores percebam a injustiça. Isso será doloroso, como toda luta é dolorosa. Mas não perderemos. Não podemos perder. Podem torturar o meu corpo, quebrar os meus ossos e até me matar. Então, eles terão o meu cadáver, mas não minha obediência”. A sua bravura sensibilizou milhares de indianos, como também comoveu o mundo.
Uma das estratégias usadas por Gandhi, que teve resultado positivo na luta pela independência do povo indiano, foi a caminhada de quase 400 quilômetros, em contestação ao monopólio dos ingleses, na produção do sal. A Marcha pelo sal foi uma ação desafiadora e, mais uma vez, de insubmissão ao regulamento inglês que exigia o pagamento do imposto sobre o sal. A respeito disso, ele afirmou: “O sal, nesse clima, é uma necessidade para a vida, como o ar e a água. Ele precisa para si mesmo, seu gado e sua terra. Esse monopólio cessará no momento que obtivermos a independência. Por que então não o abolir hoje?”. Também tecia suas túnicas e orientou os seus irmãos para que fizessem isso, seguindo o princípio da não cooperação com a injustiça. Fundou o conceito de Ahimsa, não violência, fundamento maior da construção da cultura da paz.
Bibliografia: GANDHI. Direção: Richard Attenborough. Produção: Richard Attenborough. Intérpretes: Ben Kingsley, Candice Bergen, Edward Fox, John Gielgud, Trevor Howard, Martin Sheen, Daniel Day-Lewis. Roteiro: John Briley. Música: Ravi Shankar. Inglaterra/Índia: Goldcrest Films International, International Film Investors, National Film Development Corporation of India (NFDC), Indo-British, Carolina Bank, 1982. 1 DVD (195 min.). Gênero: Drama.
João Roberto de Araújo é pensador, escritor de conteúdos para educação socioemocional e fundador da 50-50 SEL Solutions.