07 Aug 2019 | Entrevistas
O paradigma linear e a produção da violência
Teresa – O pensamento linear diante da complexidade dos fenômenos fundou teorias como o Positivismo, de Augusto Comte, que não valorizam a subjetividade e a imaginação humana. Como você vê a relação do pensamento linear com a produção da violência?
João Roberto – A subjetividade e a imaginação são base de tudo. Da subjetividade e da imaginação nascem a ação, que cria a experiência, e desta, a normatização, os valores, e, por fim, a cultura. A experiência e o conhecimento são herdeiros dessas energias que nos ativam para a criação. O Positivismo está ancorado no paradigma linear, e o pensamento linear tem duas características fundamentais: a disjunção e a redução. No processo de disjunção, ele separa partes de um todo e, ao mesmo tempo, reduz ou minimiza a compreensão dos fenômenos – esquecendo o fundamento da interdependência e do poder que as partes exercem sobre o todo. É um olhar estreito. Tomemos a dicotomia árvore-floresta como exemplo. O especialista é aquele que entende a árvore e não compreende a floresta. Ele está focado somente na parte, portanto, ignora a influência do todo sobre ela. E o generalista é aquele que fica focado apenas no todo – a floresta – e ignora a parte – a árvore.
O paradigma da complexidade, diferentemente da visão linear e positivista, abarca o todo e a parte e suas interações. Significa dar destaque à singularidade e também à pluralidade dos fenômenos. É um processo dinâmico e dialético. É dialético, já que transita de uma percepção à outra. Todo e parte, parte e todo. Os fundamentos do paradigma da complexidade promovem um avanço imenso na direção de ampliar a compreensão humana sobre a realidade. É o desafio maior da intelectualidade a reforma do jeito de pensar, tão bem sistematizada pela inteligência de Edgar Morin. O paradigma linear, com a disjunção e a redução que o caracterizam, está para a produção de violência assim como o paradigma da complexidade está para a construção da paz. A compreensão da complexidade é trilha segura na edificação pacifista. A certeza positivista é fonte de violência. Mata-se e morre-se por certezas equivocadas. Nesse cenário, destaco a minha atração pela Mitologia, sua abertura para a imaginação, sua atemporalidade e polissemia que favorecem a pluralidade e a diversidade.
João Roberto de Araújo é pensador, escritor de conteúdos para educação socioemocional e fundador da 50-50 SEL Solutions.