04 Aug 2023 | Artigos
Precisamos falar sobre violência escolar: por que os casos de ataques a escolas têm aumentado no Brasil?
Há alguns anos, as notícias sobre “school shootings”, ou tiroteios em escolas, nos chocavam, porém a certa distância, pois pareciam realidades inconcebíveis, restritas a outros países. Nos EUA, por exemplo, só no último ano letivo foram contabilizados 193 incidentes com armas de fogo em escolas.Já no Brasil foram ao menos 16 ataques armados a escolas nos últimos 20 anos – e ao menos cinco ataques desde 2019, segundo levantamento do Instituto Sou da Paz. O número de atentados é o mesmo do que foi registrado nos oito anos anteriores – entre 2011 e 2019. O que pode ajudar a explicar essa realidade tão difícil de entender?
Segundo os dados americanos, em 60% dos casos o atirador é aluno ou ex-aluno da escola. Esse dado vai ao encontro das perguntas levantadas por Luciene Tognetta, professora do departamento de psicologia da educação da UNESP: por que esses indivíduos, ao fazer seus atentados, escolhem a escola? Por que não bancos, ou supermercados? Porque, segundo Luciene, o fenômeno está intimamente ligado a casos de bullying e outras formas de violência infligida por grandes períodos de tempo – sem uma intervenção efetiva da escola. Assim, o desejo de atacar e destruir fica vinculado, também, à escola.
Entre os fatores que podem ajudar a entender essa realidade assustadora, há ainda o maior acesso a armas por civis, assim como os estilos parentais dos cuidadores – que podem ser mais distantes, negligentes ou mesmo violentos – e o uso indiscriminado e desassistido de redes sociais (entre elas fóruns secretos, em que jovens com as mesmas intenções trocam informações e se encorajam mutuamente).
Diante disso, podemos nos organizar de duas formas. Há quem defenda a criação de estratégias para que as escolas se tornem mais seguras a partir da vigilância e da fiscalização. Isso é importante – obviamente, armas brancas e de fogo não deveriam fazer parte do ambiente escolar sob nenhum pretexto, nem mesmo para “proteger” a comunidade escolar. Porém, observando os casos de sucesso no enfrentamento dessa questão em outros lugares, como os países nNórdicos, o investimento maciço em educação atua nas causas do problema, não em seus efeitos. Desenvolvem programas de treinamento de professores para estarem atentos à saúde mental dos alunos e aos possíveis sinais que comumente precedem os atentados, . Dessa forma os educadores podem a apoiar os alunos na resolução de conflitos de forma não violenta.
Se o ódio pode ser aprendido e imitado, alastrando-se pelas redes, o mesmo pode acontecer com a compreensão, a fraternidade e o amor. Podemos ensinar e aprender como aperfeiçoar as relações humanas, como lidar com emoções desconfortáveis como a raiva, a tristeza e o medo. Precisamos urgentemente fazer frente a esses fenômenos com programas de educação socioemocional preventivos e permanentes. A escola sempre foi o seio da criação do futuro e uma das frentes de resistência à barbárie. É nela que aprendemos, além de idiomas, matemática e ciências, a ser e a conviver. Devemos olhar para esse espaço de relações com atenção, cuidado e compaixão se queremos que as novas gerações sejam mais bondosas, felizes e sábias do que somos hoje.
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