07 Aug 2019 | Artigos
Quietude e atenção: o oxigênio das sociedades contemporâneas
Existe uma realidade de frustração geral em virtude da falta de compreensão dos significados mais profundos e importantes de nossa existência. Não conhecemos o caminho do bem-estar subjetivo. Sem esse entendimento, nós nos afastamos, nos escondemos e mergulhamos na mera erudição e técnica. Decepcionados, muitas vezes pessimistas e amargos, lutamos na superfície dos fenômenos. As respostas fundamentais não estão apenas nas discussões intelectuais, na mera erudição ou no tecnicismo dos especialistas.
Nossas conversas, fonte de aprendizado, não nos ajudaram muito. Na conversa atual, prevalece a superficialidade do automatismo “concordo-não concordo”, e o valor da introspecção se transforma em uma habilidade menor, desacreditada, de pouca importância na sociedade.
Sentar-se, fechar os olhos e observar a realidade do momento presente, do nosso próprio corpo, das sensações, das emoções, da nossa dimensão mais básica de vida, a respiração, ainda é uma prática que não se incorpora regularmente à educação.
Por tudo isso, devemos falar sobre a importância dos processos meditativos.
Para a nossa autocompreensão e compreensão do outro, devemos observar profundamente nossa própria mente. O desenvolvimento da ciência em todas as áreas do conhecimento – medicina centrada no corpo e astronomia, que observa o espaço com extrema curiosidade – só chegou ao ponto em que está hoje porque os pesquisadores examinaram com profundidade e disciplina a observação dos fenômenos dessas realidades.
Com relação à mente, isso não aconteceu. Sabemos pouco e temos muito pouco controle sobre ela. Temos o desafio de conhecer, por nós mesmos, nossa realidade interna. Observá-la como ela é, sem os filtros de narrativas e mitos culturais, pode reduzir muito nosso sofrimento diário. O sofrimento não vem apenas de fora, é criado, em grande escala, por nossa própria mente.
Esses processos de introspecção são chamados de meditação, e têm sido investigados e estudados pela lógica científica. A ciência aceita a importância da meditação. Ainda estamos tentando entender os limites entre o cérebro e a mente, embora já saibamos que eles representam diferentes complexidades e que a meditação é a forma de compreender a mente.
Saber observar a realidade das sensações no corpo e as reações mentais por meio das emoções é a base para a construção do ser sensível e um grande alicerce para o desenvolvimento de competências socioemocionais.
Na complexidade das sociedades contemporâneas, a meditação será tão importante quanto o oxigênio que respiramos. Será vital para reduzir erros e ilusões nas decisões políticas, profissionais e pessoais.
Junto com as maravilhas tecnológicas que amamos, existe um lado perigoso e oculto que merece nossa atenção. Em breve, algoritmos e inteligência artificial dominarão não apenas os processos de gestão de negócios profissionais, mas também as próprias decisões pessoais. Se não investigarmos, por nós mesmos, a realidade dos fenômenos, principalmente os da mente, corremos o risco de, no futuro, perder o espaço de escolha. E isso é muito grave. Ainda temos tempo, mas não muito. A disciplina meditativa pode manter a consciência e a racionalidade abertas para decidir a direção de nossos melhores interesses.