21 Jul 2022 | Artigos
Ensino Médio: desafios e conquistas de um novo tempo
Prazer, eu sou o Novo Ensino Médio! Novo? Existe um contrassenso aqui: como é possível que eu seja novo se tenho mais de cem anos? Calma, lá! Antes de explicar isso, vamos conhecer um pouquinho da minha história.
Com a expulsão dos jesuítas no início do século XIX, muitos estabelecimentos do ensino secundário foram fechados. Com isso, nosso país ficou praticamente sem educação formal. Mas, em 1834, já com a família real portuguesa em terras brasileiras, foi criado um Ato Adicional que propiciava autonomia às províncias para promoverem o ensino público. Como consequência, em 1837 surgiu o colégio Dom Pedro II, com estrutura disciplinar seriada, a primeira iniciativa do poder central brasileiro de um ensino mais programático.
De lá para cá, sofri muitas mudanças. Por exemplo, em 1890 minha duração chegava a sete anos. Em 1915, com a reforma Carlos Maximiliano, passei a durar cinco anos e o foco era “ministrar aos estudantes sólida instrução fundamental, habilitando-os a prestar, em qualquer academia, rigoroso exame vestibular”. Foi só em 1942 que eu me estruturei como curso de estudos regulares, com duração de três anos e a divisão entre científico e clássico. O objetivo dessa reforma era, além do ingresso no nível superior, propiciar aos estudantes subsídios humanísticos e patrióticos.
Já deu para perceber que sou um tanto velho. Ou melhor: experiente, com muita história para contar! Mas, então, por que agora sou o Novo Ensino Médio? Ora, porque a partir de 2022 entram em vigor algumas mudanças significativas em minha estrutura. Mudanças que vão inovar minha cara, meu corpo e minha mente.
Vale dizer que não precisamos temer as mudanças. Tudo no mundo está em constante movimento. Como dizia Heráclito, filósofo da Grécia Antiga, “um ser humano jamais entra duas vezes no mesmo rio porque, da segunda vez, não é o mesmo rio, tampouco a mesma pessoa”. Se tudo está em transformação, não cabe a nós tentar frear o fluxo do tempo. Mas, ao contrário, devemos ser agentes das transformações e utilizá-las a nosso favor. E é isso que faremos. Juntos.
O ponto central é que, agora, o aluno terá mais autonomia. Sim, o estudante é o protagonista do Novo Ensino Médio! E eu fico muito contente com isso. O que não me deixa nada satisfeito é que, até 2020, mais de 40% dos alunos me abandonaram antes de terminar os estudos. Isso se deve, claro, à necessidade que muitos jovens têm de complementar a renda familiar, à gravidez na adolescência e a vários outros problemas sociais. Quanto a isso, são necessárias políticas sociais mais efetivas, sem dúvida. Mas há outro fator fundamental: o desinteresse!
Dizem por aí – e com razão – que a educação é o alicerce do ser humano; é ela a responsável pelas transformações sociais mais profundas e duradouras. Contudo, se o discurso não tiver raízes “na vida real”, nas práticas do dia a dia, fica sendo frase decorativa, útil apenas para status em redes sociais. É preciso saltar da teoria à aplicação. Esse é meu objetivo a partir de 2022. Eu, o Novo Ensino Médio, estou aqui para servir a uma educação que realmente mereça esse nome.
Antes de eu nascer, os conteúdos ministrados estavam, em grande medida, desconectados com a realidade do jovem, não faziam muito sentido em seus cotidianos, na vida prática e concreta. A partir de várias pesquisas sérias e, claro, da experiência e relatos dos próprios estudantes, chegou-se à conclusão de que o modelo tradicional de ensino não atendia às necessidades e expectativas dos jovens do século XXI. Então, me reformaram, ou melhor, me inovaram. Mas, afinal, como serei a partir de 2022?
As antigas “matérias” não vão desaparecer, mas os conteúdos, com a reforma, valorizam a transdisciplinaridade para que tudo faça mais sentido aos estudantes.
Os itinerários são, de fato, a maior novidade. E a possibilidade de uma revolução na educação. Neles, com enfoque nas competências gerais da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), serão contemplados oficinas de textos, cultura digital e o componente curricular Projeto de Vida.
A ideia do Projeto de Vida é incentivar o protagonismo e a autonomia do estudante em suas escolhas, auxiliando o jovem na construção de sentido para sua vida (no mundo, consigo, com os outros e com seus sonhos). Dando ênfase na formação integral, o intento é estimular o desenvolvimento de habilidades como cooperação, compreensão, domínio de tecnologias, defesa de ideias e autoconhecimento.
Ah, o autoconhecimento! Só quem conhece a si mesmo de modo profundo é capaz de ser mais feliz. Além disso, quem promove uma reflexão sobre a própria identidade tem mais aptidão para enxergar o outro afetivamente, com suas subjetividades, anseios e visões de mundo. Em outras palavras, conhecer a si está relacionado a atuar socialmente de modo mais decisivo, consciente sobre as escolhas presentes que afetarão o futuro.
É nesse sentido que a educação socioemocional é um caminho promissor não apenas para o bem-estar pessoal, mas para o êxito profissional. Como assim? Você já percebeu que a transdisciplinaridade, o diálogo entre os saberes e a construção conjunta do conhecimento são marcas profundas em mim. Eu nasci com essa vocação! E a educação socioemocional contempla esses e muitos outros aspectos.
Desenvolver competências socioemocionais, nesse cenário, é fundamental tanto para estudantes quanto para professores. Por falar em professor, meu propósito como “Novo” Ensino Médio é dar o valor que esse profissional merece. Afinal, o professor/educador/mediador/facilitador de saberes, certamente, é o fundamento para qualquer processo ensino-aprendizagem. Com o Novo Ensino Médio, o educador terá mais autonomia para desenvolver seus projetos. Estou confiante de que o educador será um disseminador de saberes e afetos, um mediador de possíveis conflitos e um incentivador do encantamento pela educação. Claro que, para isso, ele precisa ser amparado material e emocionalmente. Primeiro, para que absorva e potencialize as mudanças em fluxo. Segundo para que, a partir da sua motivação, os estudantes também se motivem. E, com isso, sejam alunos empenhados, cidadãos melhores e futuros profissionais de sucesso.
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Artigo publicado na Revista Escola Particular do SIEEESP – Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo – Edição 292, Julho 2022.