13 Apr 2023 | Artigos
O que há por trás dos ataques a escolas?
Diante de tragédias como estas, o medo e o nervosismo podem prejudicar nossa compreensão e empobrecer nossas respostas. À primeira vista, explicações superficiais podem nos ajudar a elaborar sentidos para o que parece absolutamente incompreensível. O que há por trás dos ataques a escolas? Pode ser tentador responder a essa inquietação localizando os problemas “dentro” das pessoas ou instituições, responsabilizando-as individualmente. Assim, o bullying ou a negligência parental podem despontar como respostas mais imediatas. E, certamente, não deixam de fazer parte da equação.
Contudo, outros fenômenos sociais como as ideologias extremistas que glorificam a violência e sua livre circulação nas redes sociais, o aumento ao acesso a armas de fogo, a disseminação de discursos de ódio e a espetacularização midiática também são fatores que não podem ser ignorados. Pessoas, famílias e instituições carregam responsabilidades individuais, mas exibem sintomas que dizem respeito a realidades coletivas, isto é, ao que produzimos juntos quando nos relacionamos. Sentimos e agimos, em grande parte, a partir do que está socialmente disponível.
O SER HUMANO NÃO NASCE VIOLENTO
Sabemos que os seres humanos não nascem violentos. Se existe uma “natureza humana”, ela é mais cooperativa que destruidora. Dentre os animais, os seres humanos têm o mais longo período de “maturação”, em que precisam receber cuidados e integrar uma comunidade para se tornar adultos “autônomos”. Na realidade, o que se observa é que nós “aprendemos” a ser violentos.
A cultura dominante de nossas sociedades ostenta uma retórica que condena a violência, é verdade. No entanto, ao mesmo tempo, existe uma cultura de violência que constantemente sussurra aos indivíduos que, quando diante de um conflito, há apenas duas alternativas: covardia ou violência.
SER PACÍFICO TAMBÉM SE APRENDE
Se aprendemos a ser violentos, também podemos aprender a ser não violentos. A violência é fruto de um profundo sentimento de impotência: de ver-se sem futuro, inútil ou inapto para o mundo. Sentem-se nulos, por isso destroem para dizer que existem. Ensinar a não violência, então, passa por ensinar a sentir-se alguém sem ter que agredir ninguém. Não violência significa agir sem violência contra a violência. Trata-se de servir-se da vida para preservá-la; enquanto a violência sempre ameaça o outro com a morte.
Se partirmos da premissa de que todos querem estar ligados uns aos outros de modo positivo, sendo vistos, ouvidos e valorizados, daremos melhores respostas às muitas manifestações da violência escolar e na sociedade como um todo. O investimento nos relacionamentos tem lastro no respeito, na responsabilidade mútua e nas amizades formadas dentro de uma comunidade amistosa. Se o trabalho básico de formação de um senso de comunidade não for feito, a criança não tem o que preservar ou do que se nutrir, portanto, não tem nada a perder pelo mau comportamento, pelos enfrentamentos ou pela violência. Tem pouca motivação para mudar.
URGÊNCIA: A REFORMA DOS VALORES QUE ORIENTAM A CULTURA E A EDUCAÇÃO
As escolas possuem regras e normas para oferecer um lugar seguro para todos. Mas a verdadeira segurança vem do cultivo e manutenção de relacionamentos de cuidado mútuo. Todos saem perdendo quando, diante de uma ação socialmente nociva, nos filiamos apenas à vigilância, regras e normas em vez de nos relacionamentos uns com os outros de modo mais humano e habilidoso. Mais do que nunca, é hora de priorizar o ensino e aprendizagem de habilidades e competências que possam configurar espaços de convivência seguros para todos. Precisamos investir na reforma dos valores que orientam a cultura e a educação. Certamente a complexidade da condição humana pode não eliminar a violência, mas seguramente, as crianças e jovens de hoje, serão adultos mais aptos para enfrentamento dos conflitos e construção da paz.
FONTE:
SÉMELIN, Jacques. A não violência explicada às minhas filhas. Via Lettera Editora, São Paulo, 2001
MULLER, Jaean-Marie. Não-violência na educação. Palas Athena, São Paulo, 2006
AMSTUTZ, Lorraine Stutzman e Mullet, Judy H. Disciplina restaurativa para escolas. Palas Athena, São Paulo, 2012